Converso com o Eu de dentro. Ele vê tudo que sinto, tudo que surge primeiro nas dimensões da minha cabeça.
Sinto-me completamente confortável hoje em dia nesses dois mundos: O que vejo do lado de fora e o que se forma oculto, mudo, telepático, que sente e escuta os pensamentos e as ações omissas. Embora seja difícil ouvir a sua voz com exatidão, quando converso para dentro me viro e a vejo, baixinha, a sussurrar sensações e passos.
Antes, era-me impossível contar tão abertamente como faço para entender um pouco mais a vida, mas depois de tantas tentativas para me separar dela, agora consigo entende-la melhor.
Gosto da denominação que atribuíram as personas de cada criatura: Alma. Parece perfeita chamá-la assim! Esse ser misterioso cumpre uma existência tão real, quanto saber que sonhou. Ela anda entre as perturbações e as criações da mente, entre as percepções e a sabedoria, entre sensações que movem vontades e alarmam algo subtendido; E quando grita é um inferno! Nessas horas não adianta conversa, ela quer um sacrifício. Por outro lado, se lhe satisfaz, a alma oferece o céu particular. A sensação é grandiosa, e não há coisa mais viva! São momentos, instantes, pedaços muitas vezes quase extintos. E é nessa hora, de graça, que ela se mostra, que deixa a natureza solta, despida, como uma epifania duradoura…
Mas, logo ela se cala, contemplativa. Oculta, outra vez. E eu vivo, por minha conta, chamando-a para olhar o lado de fora e me dizer o que fazer; Ela só pisca, E cria uma sensação.
Ao fim, vivemos no mesmo corpo, como uma casa com duas vistas.
M.E,